Sobre o tempo


Aos 15 eles se conheceram. Ainda não sabiam nada sobre o amor, mas sentiam-se seguros quando estavam juntos . Não sabiam nada sobre a saudade, mas sentiam-se indefesos quando estavam separados. A única coisa que eles realmente sabiam era que seria desnecessário tentar explicar ou descrever aquela situação; eles só precisavam mesmo era sentir. E foi isso o que fizeram. Logo no segundo encontro via-se uma enorme sintonia crescer. Suas palavras dançavam em sincronia e eles já não se davam conta de quanto o tempo passava absurdamente rápido quando estavam juntos. Após este dia ficou claro que algo inexplicável estava acontecendo. Ao chegar em casa, ele percebeu que já lhe cresciam alguns pêlos sobre o rosto e procurava entender qual o sentido de ter envelhecido quase 6 anos desde a última vez em que a viu. Ela por sua vez tentava decifrar o que aqueles sapatos faziam no armário e como combinar todos os itens do seu novo estojo de maquiagem. Mais alguns dias e um novo encontro aconteceu. Agora em um bar movimentado e não em frente a igreja como da última vez. Eles chegaram, se cumprimentaram e o sincronismo de uma longa respiração ofegante deixou claro que os dois não sabiam o que dizer e nem o que fazer naquela situação. Um longo abraço que durou incontáveis noites marcou a despedida para ambos. A manhã seguinte fez dele um homem já com 30 anos e dela uma mulher prestes a comemorar seu aniversário. Seria contraditório tentar revê-la para lhe desejar muitos anos de vida. Este desejo só se concretizaria se ambos decidissem não se ver mais. E eles decidiram. Decidiram continuar apenas sentindo, sem tentar explicar ou descrever a situação. A cada nova oportunidade de se conhecerem mais um enxergava nas marcas de expressão do outro o tempo se esgotando. Com ambos aos 70 anos, o quinto e último encontro foi uma espécie de data marcada para a despedida. Vistas por outros olhos suas lágrimas caíam numa velocidade incrível. Estava claro que tudo terminaria quando um dos rostos secasse e o outro continuasse chorando pela recente perda. A situação caminhava pra isso até que em um ato de amor e cumplicidade, como para abafar os gritos de uma morte anunciada, eles se beijaram. Naquele instante o tempo parou; uma doce recompensa que os permitiu viverem juntos cada minuto dos próximos 70 anos

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